A provocação estava lá, na timeline
de uma amiga querida: “O que você deixou de ser quando cresceu? ”
A princípio achei que nem tinha ligado, era só mais uma dessas frases
prontas que brotam nas redes sociais, mas eis que a pergunta não desgrudou mais
dos meus pensamentos e devagar, bem devagarinho, fiquei inundada de
lembranças...
Lembrei-me do meu primeiro rádio gravador, ganhado em um Natal que
passamos na praia. Nem me recordo quantos anos eu tinha, mas sei perfeitamente
que, a julgar pelas dificuldades que passamos na época, deve ter sido comprado
com um tanto de sacrifício por parte da minha mãe. E, com certeza, o presente
foi dado porque uma das coisas que eu deixei de ser, para a alegria da geral,
foi cantora. Eu e minha prima, que ganhou o mesmo presente na mesma data e
mesmo local. Não sabia direito se seríamos uma dupla ou se teríamos uma banda e
muito menos que tipo de música cantaríamos, mas era certo que seríamos cantoras.
E juntas. Porém, quis o destino que eu me mudasse de cidade e tudo acabou!
Mais tarde, já morando no interior, tive a minha fase de coreógrafa.
Juntava a meninada da rua, inventava as danças, ensaiava todo mundo por semanas
a fio e um belo dia apresentávamos o espetáculo, que na maioria das vezes tinha
uma música só, para nossos pais na sala de casa. Com esse público tão seleto,
os aplausos eram sempre certos! Mas aos poucos fui perdendo o interesse das
bailarinas e mais uma carreira promissora se encerrou.
Também tive minha fase empreendedora, apesar de nem saber que essa
palavra existia na época. Fazia “jujus” na cozinha de casa e saia com meu irmão
e alguns amigos para vender na rua. Para quem nunca ouvir falar em juju, nada
mais é do que o popular gelinho. O negócio acabou no dia em que tivemos que
correr muito, mas muito mesmo, de um cliente um tanto quanto azedo. Esquecemos
de adoçar os jujus de limão...
Daí chegou o ginásio, menos tempo para aprontar e mais tempo dedicado ao
colégio. Por sorte, tive uma professora de educação artística sensacional e
quando vi lá estava eu em minha nova empreitada: roteirista e diretora de peças
teatrais para a escola! Chegamos até a nos apresentar na famosa Semana de
Cultura e Arte da cidade. Um sucesso! Gostei tanto da brincadeira que acabei
indo parar no grupo de teatro da cidade e estreei minha fugaz carreira de
atriz, que durou até o início do colegial, quando deixei de ser tudo para ser
somente uma desesperada aluna pré-vestibular.
Nessa época pensava em ser muitas coisas... mas quando pensava nas
possíveis profissões a escolher, tinha uma que há muito me acompanhava. Eu
queria ser médica. E questionei muitas vezes se era esse um desejo de fato real
ou se seria porque é legal isso de você dizer e saber desde criança que quer
ser qualquer coisa. E eu imagino exatamente de onde veio essa história: do
consultório do Dr. Armando, que atendia numa portinha simples da zona norte de
São Paulo. Era o médico da minha família.
Dr. Armando era um senhorzinho amoroso, de olhar doce e cabeça branca.
Foi a primeira pessoa a nos dar o mundo! Presenteou a mim e a meu irmão mais
velho com o nosso primeiro Atlas Mundi.
Encheu nossos dias de aventuras e viagens sem fronteiras por muito tempo!
Tínhamos o mundo em nossas mãos. Era muito poder!
Hoje, olhando para trás, não sei se sou ou se deixei de ser a médica que
eu queria ser, mas sou, com certeza, muito mais do que um dia imaginei. E sabe
por que? Porque hoje sou mãe. Sou muito mãe! E que mãe não acaba sendo um pouco
cantora, coreógrafa, roteirista, diretora, atriz, médica, enfermeira,
cozinheira, professora, mágica, feiticeira (às vezes bruxa) e tantas outras mais?
Emocionada Poli. Adorei "ouvir" um pouco da sua história e do seu desbrochar como mamãe querida da Anna Laura linda! Bjos
ResponderExcluirPuxa, De, obrigada!!! Bjs
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