Quando idealizei este blog há algum tempo atrás, não cogitava a
possibilidade de escrever sobre assuntos polêmicos, como política, por exemplo.
Minha idéia inicial era ter um espaço onde eu pudesse simplesmente deixar fluir
a criatividade e o desejo de voltar a escrever alguma coisa leve e descontraída.
Não que eu não me interesse pelo assunto, mas o que queria mesmo era uma rota
de fuga dos dramas cotidianos.
No entanto, não consegui não me manifestar frente a tudo que leio e vejo
sobre as manifestações ocorridas em São Paulo nas últimas semanas. Não pretendo
discutir aqui, especificamente, o aumento do custo do transporte público, mas
tudo aquilo que realmente tem me ocorrido quando penso sobre o assunto.
Nunca fui contra protestos e manifestações, tampouco consigo achar
negativo o fato de diferentes pessoas com diferentes estilos e modos de viver
organizarem-se por uma causa, muito pelo contrário, acho de grande valia e cada
vez mais necessário. Entretanto, sou contra atos que incitem a violência, seja por
parte dos manifestantes ou do Estado, assim como sou contra o tratamento vil
que a imprensa, de um modo geral, está dispensando à questão. Mas o que seria a maior violência, neste caso?
Pensando especificamente nessa questão propagada aos quatro ventos
pela mídia - a violência -, passei a me questionar sobre o que estamos
considerando, de fato, violência.
É muito fácil identificar como violentos atos nos quais há destruição
física e material, seja de coisas ou pessoas. No entanto, quando penso em tudo
a que estamos expostos todos os dias, não consigo me ater somente à essa
violência explicita exibida todos os dias à exaustão. Quando penso em violências,
as que mais me assustam são as que nos passam despercebidas, as que não nos
chocam mais por estarem invisíveis ao nosso olhar.
O Estado não é violento somente quando reprime as manifestações, mas
quando expõe a população a tanta falta. Violência, na minha opinião, é não ter
comida no prato, é não ter o que vestir ou onde morar, é ter que esperar por
mais de seis meses para conseguir uma consulta médica de 10 minutos (sendo bem
otimista!) ou para fazer um exame que definirá a sua vida. É ficar amontoado
nos corredores de hospitais como coisas ou ser reanimado no chão da sala de
emergência por falta de macas ou leitos. É passar horas na fila da
"farmácia do governo" pra ouvir que o remédio acabou. É não ter o
mínimo acesso a uma educação decente e de qualidade e ser privado de cultura e
lazer. É não poder andar tranqüilamente pelas ruas de sua cidade e achar normal
ter medo de tudo e todos o tempo todo. É sentir-se desrespeitado todos os dias
como cidadão, ouvindo propagandas enganosas na TV dizendo que o Governo dá
remédio ou qualquer outra coisa "de graça" depois de trabalhar quase
meio ano somente para pagar impostos. É receber esmola disfarçada com a
desculpa de acabar com a pobreza sem receber as reais condições básicas
necessárias para crescer, dentre tantas outras coisas. Somos brutalmente
violentados diariamente e já não nos importamos.
O pior é saber que essas são as violências para as quais todos nós
contribuímos, pelas quais somos todos responsáveis quando desperdiçamos nossos
votos, quando fechamos os olhos para todos os deslizes dos nossos governantes,
sejam eles de que partido ou ideologia forem; quando não nos organizamos nessas
mesmas manifestações para exigir transparência e respeito, quando não
fiscalizamos as contas publicas para as quais todos contribuímos, quando
aceitamos passivamente o aumento dos salários dos cargos políticos e a redução
do salário dos trabalhadores (como aconteceu com os professores de Juazeiro,
por exemplo); enfim, quando abdicamos da nossa condição de cidadãos.
Quem saberia me dizer exatamente, mas exatamente mesmo, qual o montante
arrecadado pelo governo (seja Municipal, Estadual ou Federal) em impostos? E
como, exatamente, esse dinheiro é distribuído e gasto? E mais, quem arriscaria
o próprio pescoço defendendo que os dados e informações que recebemos do
governo hoje são totalmente fidedignos?
Confesso que eu mesma não tenho o hábito de buscar tais informações e
reconheço que poderia ao menos tentar fazer a minha parte. Mas também me
irrito profundamente com as pessoas que fingem que fazem, que se julgam mais politizadas que
todas as demais e perdem seu tempo (e o meu!) defendendo partidos políticos que
há muito deixaram de ser o que (ao menos acreditamos) foram um dia e não percebem
que hoje são exatamente iguais na defesa dos próprios interesses e na não
valorização dos interesses coletivos da população.
Não importa qual partido político esteja no poder, a obrigação de um
governante com seu povo não pode mudar com a mudança de partido, tem que ser
sempre a mesma: garantir os direitos explícitos em nossa Constituição! Não
quero um governo que lute pela defesa das ideologias de seu partido, mas um que
garanta para a população as condições mínimas para se viver dignamente com saúde, segurança, transporte, habitação,
educação e comida na mesa!
TEXTO MAGNIFICO....VERDADEIRO...CONTUNDENTE...CORAJOSO...PENA QUE É TANTA VERDADE E A MENTIRA CONTINUA CAMPEANDO NOSSO COTIDIANO....LINDA PARABÉNS LINDO TEXTO AMEI....WI.
ResponderExcluirMuito obrigada pelo comentário!
ExcluirInfelizmente, tenho que confessar que eu não acredito que as coisas mudarão, pelo menos não tão rapidamente quanto gostaríamos, mas se indignar já é alguma coisa nesse mundo de marasmo e apatia em que vivemos...
Obrigada!