sábado, 14 de abril de 2012

Sobre a felicidade

Antes, uma breve explicação: escrevi este texto há cerca de dois anos, quando fazia um blog de "trocas de cartas" assinadas por pseudônimos com uma amiga muito querida... a carta é uma resposta a outras tantas que trocamos na época...

                                                         Fotografia: Polianna Souza
Querida amiga, 

Como eu esperava, estou melhor… foram somente os meus não inesperados dias de melancolia… nada estranho, quando se trata de mim!
Sentir saudades é normal, seja de pessoas, vivências, sentimentos ou pensamentos. Mas passa. Passa, volta , passa de novo, tantas vezes forem necessárias! E cada vez que volta nos dá a oportunidade de lidar com  tudo de formas totalmente diversas… não é interessante?  Aprendemos a lidar com as nossas contrariedades e frustrações, com a própria saudade inclusive, até que um dia a gente deixa de sentir… ou passa a sentir de uma forma mais suave, um quase não sentir.
Não há como negar que temos esse velho hábito de nos projetar no outro e nele depositar infinitas possibilidades (quanta responsabilidade para o outro!). Digo velho, pois, de certa forma, aprendemos a fazer isso desde muito cedo… afinal,  já nascemos fruto de um projeto alheio! E quantos não passam a vida inteira cumprindo a risca o projeto inicial, realizando sonhos e desejos que não lhe pertencem… pode ser difícil acordar desse engodo.
Às vezes fazemos isso com a nossa felicidade. Confiamos ao outro a difícil missão de nos fazer feliz. Eximimo-nos da responsabilidade. Outras vezes, até aceitamos a missão, mas criamos uma série (muitas vezes interminável) de pré-requisitos e adiamos a felicidade para um futuro que nem sabemos se chegará. Podem ser várias as imposições: formar-se, casar, ter filhos, emagrecer, comprar “aquela” casa, conseguir “aquele” emprego, aposentar-se… e por aí vai… Por que não pode ser AGORA?
Perdemos tanto tempo querendo ser o que não somos ou ter o que não temos… Na verdade, confundimos muitas vezes o que realmente precisamos com aquilo que simplesmente queremos, mas que está muito longe de ser essencial… são tantas as promessas de felicidade no mundo de hoje que nos perdemos…
Por que ter medo de ser feliz?
Acho que nunca tive esse medo. Talvez porque felicidade para mim nunca foi uma coisa mágica, indecifrável e distante, talvez porque, apesar dos pesares da vida, sempre me julguei feliz!
Felicidade, em minha opinião, é vital como respirar; necessário como beber água. É fisiológico! Difícil explicar, mas mesmo quando estou triste, chateada, descontente, aborrecida ou contrariada com qualquer coisa (amores, amigos, família, trabalho e, na maioria das vezes, comigo mesma) eu tenho a mais absoluta certeza de que continuo feliz. Não consigo conceber felicidade como algo extremamente grandioso e inacessível. Felicidade, para mim, é dia a dia, é acordar pela manhã e saber que inúmeras possibilidades me aguardam. É, por exemplo, estar aqui e agora escrevendo para você!
Não consigo ver a felicidade como um estado absoluto de graça; como ausência de problemas, de dores e perdas. Não consigo simplesmente porque isso não seria natural, a vida não é assim… não é possível estar tudo sempre como planejamos o tempo todo… não temos esse poder e esse controle.
Tudo bem se às vezes ficamos tristes, se somos atormentadas pela “madrasta do espelho” (ou tantas outras), se choramos nossas perdas, se temos medo, se sentimos saudades… É normal!
Para você, o que é felicidade?
Só por curiosidade, fui xeretar nos dicionários – como será que se define felicidade?  Pesquisei em vários, eis um breve resumo do que encontrei: “qualidade ou estado de ser feliz (?); estado de uma consciência plenamente satisfeita (??); satisfação, contentamento, bem estar, bom êxito, sucesso, boa sorte”.  Quanta subjetividade! Na minha opinião, ser feliz é tão mais simples…
Saber quem eu sou e que, se necessário, posso transformar e melhorar muitas coisas em mim me faz feliz. Poder fazer escolhas: mudar de emprego, voltar a dançar, tocar violão, caminhar no parque, nadar, cantar, ler um bom livro, aprender um novo idioma, conhecer novas pessoas e novos lugares, viajar…
Saber que nada é imutável e definitivo… Clarice Lispector dizia que o que a atormentava era que “tudo é por enquanto, nada é para sempre”… isso é o que me conforta!
Por fim, penso que felicidade vem de fé. Isso mesmo: fé, crença, confiança! Vem da nossa capacidade de acreditar na vida, nas infinitas possibilidades, nas pessoas e, acima de tudo, em nós mesmas… Colocamos obstáculos demais, duvidamos demais, não confiamos em nossos sentimentos mais íntimos, na nossa intuição.
Por mais clichê que isso possa parecer, acredito que a felicidade está exatamente onde a colocamos. Onde você anda deixando a sua?

                Beijos felizes!


2 comentários:

  1. Achei perfeita sua definição de felicidade, acho que é por aí.
    Belíssimo texto, Poli.
    Beijos

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