quinta-feira, 12 de abril de 2012

Decifro-me?

                                           Fotografia de Polianna Souza
                                              
Noite dessas tive um sonho instigante…
Era um dia incrível de sol e eu estava caminhando livremente na beira da praia. Não me lembro de ter visto nenhuma igual antes, tamanha era sua beleza. A areia era impressionantemente clara e o mar tão límpido, com tons oscilando entre o verde e o azul, como seus olhos… Espalhadas na areia viam-se conchas coloridas e felizes estrelas do mar, que iam e vinham, acompanhando o movimento das águas, soltas e suaves.
Encontrava-me completamente sozinha, imersa em meus pensamentos, mas sentia-me plenamente feliz. Era como se nada me faltasse naquele momento. Nem você!
De repente, senti que algo batia suavemente em meus pés e olhei entre assustada e curiosa. Era uma garrafa de vidro meio fosco, talvez pela ação do tempo, mas pude perceber que havia algo em seu interior, parecia um papel enroladinho… O que seria? Não sabia se devia ou não abri-la, mas a curiosidade perturbava meus julgamentos… Não resisti! Deu trabalho, mas consegui resgatar a pequena relíquia de dentro da garrafa. Tratava-se de um minúsculo pergaminho. Desenrolei-o com o maior cuidado, em um misto de medo, ansiedade e entusiasmo e, após alguma hesitação, pude ler o recado que trazia: “Prudência com o que pedes. Não te iludas! Domine antes teus reais desejos.”
O que queria dizer aquilo? De onde teria vindo? Quem o escreveu? Para quem seria o conselho? Há quanto tempo teria sido escrito e enviado? Nunca saberia a resposta, mas pressentia que não conseguiria esquecê-lo… Suas palavras martelavam minha cabeça, cobravam-me respostas. Quais seriam os meus mais profundos desejos?
Naquele momento, eu comecei a pensar em você… Não, não como alvo do meu querer sincero e profundo, mas como alguém com quem pudesse dividir a angústia que se instalava em meu coração. Céus, os anseios de minha alma não poderiam restringir-se à urgência de sua presença!
Quais seriam minhas vontades, aspirações, sonhos, enfim, meus desejos mais íntimos? Fechei os olhos e assim fiquei por um bom tempo, tentando ver o que trazia por dentro… Tentando olhar para o meu interior, para o mais íntimo de mim… Não conseguia me decifrar! Medo… Quem sou eu afinal?
Quando finalmente consegui abrir os olhos, tudo ao meu redor havia mudado. O lindo dia de sol dava lugar a penumbras, sombras e frio… Tudo estava nublado e escuro. Eu mal podia enxergar… O que estava acontecendo?
Eu andava de um lado para o outro, absolutamente perdida, sem conseguir me encontrar. Tudo o que eu desejava naquele momento era sua mão a me segurar, queria a segurança de ter em quem me apoiar e confiar. Mas, espere um pouco… Nunca pude confiar verdadeiramente em você! Será que nem nos sonhos?
E, em meio ao meu desespero e perambulação, acabei tropeçando em algo duro e gélido. Era uma lâmpada, dessas lâmpadas de histórias mitológicas árabes, dessas bobagens de desejos e realizações… Bobagens? Será? Eu precisava sair daquele lugar, precisava de ajuda, não sabia o que fazer… Não custava tentar. Esfreguei-a fervorosamente! Nada aconteceu…
E essa história de realização fácil de nossas vontades? Não bastaria o esfregão para eu me livrar daquele sonho transformado em pesadelo? E onde estava você justamente no momento em que me sentia tão só? Por outro lado, e se me fosse concedido apenas um desejo, em detrimento de todos os outros, o que eu faria? Eu desejava tantas coisas!
Queria de volta a sensação de paz, o coração leve e tranquilo, os dias felizes de sol, os amigos solidários ao meu redor, as lágrimas de alegria, as sensações prazerosas das conquistas, o aprendizado dos caminhos difíceis e tantas esperanças… Como eu poderia priorizar apenas um desejo? Mais valiam as dúvidas que se abriam em possibilidades do que as certezas que congelavam meu coração!
Acordei assustada, meio ofegante e você não estava ao meu lado. Dei-me conta de que você não fez parte dos meus anseios prioritários… Será que eu finalmente comecei a te esquecer? Não queria pensar!
Olhei o relógio, estava quase na hora do despertador tocar. Então pensei no que eu pediria naquele momento e desejei dormir só mais cinco minutinhos!



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